A Nossa Quadradura do Círculo!

Perante a importância do mediatismo na formação de mentalidades, a televisão em Portugal é hoje aproveitada para fazer passar políticas, ideias de actuação social e de pensamento, falando-se a maior parte das vezes em nome do colectivo e menos em termos individuais.

Vem isto a propósito dos programas de opinião que passam nos nossos canais televisivos. Da rádio para o pequeno ecrã, o Quadratura do Círculo é exibido na SIC Notícias e o painel residente é composto por José Pacheco Pereira (militante do PSD), António Lobo Xavier (afecto ao CDS/PP) e Jorge Coelho (mandatário do PS no programa), substituto do socialista José Magalhães. Carlos Andrade é o jornalista de serviço do quarteto, que devia ser um trio, pois um profissional da comunicação social é sempre um elemento à parte e nunca deve ser quantificado… Como vemos, estão aqui representadas três correntes políticas da nossa democracia. Mas como representativa que é, falta um residente da CDU e outro do BE – duas forças partidárias com assento parlamentar na Assembleia da República, por determinação popular. Assim sendo, perante a má formação, bem podíamos classificar este programa não como Quadratura, mas antes como Quadradura do Círculo.

Passando os olhos por outros espaços explorados em canal aberto, com periodicidade semanal, encontramos na RTP “As escolhas de Marcelo” Rebelo de Sousa – ex-líder do PSD – e ainda as “Notas Soltas de António Vitorino” – figura de cartaz do PS. Ou seja, continua-se a dar voz aos mesmos, mudando-se apenas o boneco. Na TVI, surge Miguel Sousa Tavares, um ex-jornalista que disseca e escreve sobre tudo e todos, dedicando-se ainda à feitura de romances. Todavia, como sabemos, também ele é próximo do CDS/PP.




Independentemente da preferência ideológica, penso que não se deve menosprezar as intenções do povo e deixar de se chamar a terreiro todas as correntes políticas da nossa praça, (repito) quanto mais não seja aquelas que os portugueses escolheram para o principal hemiciclo do país. No meio desta panóplia de incongruências, safa-se o debate na RTP2, a partir de Estrasburgo, com os eurodeputados dos diferentes partidos representados no Parlamento Europeu.

Não sei se este cenário se repete noutros países democráticos, mas também pouco me interessa, até porque o mal já está entre nós. Algo de errado perdura no espectro mediático nacional e mais preocupante ainda é ver estes defeitos chegarem ao canal público de televisão, ninguém levantar a voz e tudo continuar como está! Sobre estas linhas editoriais, que mais se pode dizer? Assim vai a nossa Quadradura do Círculo!